Para ser bastante honesto, o hábito de escrever sobre a Felícia teve início motivado exclusivamente por fatos como esses, que eu já imaginava um dia iriam acontecer. A capacidade de ser sincera, como uma criança, só uma criança consegue ter. E essa doce sinceridade, que faz rir e morrer de vergonha, sempre foi o que eu queria registrar aqui.
As histórias dos amigos, sobre as tiradas de seus filhos (um que, depois de ouvir o pai deixar escapulir um pum na saída da pizzaria começou a cantar em alto e bom som “Vambora! Vambora! Peidando toda hora!“; outra cujo filho, ao ver um anão passeando no shopping, saiu correndo na direção oposta gritando alarmantemente “Fujam! Eles estão invadindo a Terra!!!”), me davam uma ponta de inveja. Ainda mais como pais como mim é Fiona (e tios como os irmãos da Fiona), o perigo se torna exponencial.
Pois bem: domingo de manhã eu fui até o berço dela acordá-la para irmos à missa. Dei-lhe uns beijos, fiz uns chamegos, ela mexeu para lá, para cá, tentou fugir e, como não conseguisse, falou:
– Papai, a mamãe está te chamando. Vai lá, vai?
É uma tática mais eficiente do que pedir mais cinco minutinhos.
Mas comigo não cola.
Então, de onde nasce esse ‘senso de oportunidade’? Acho fascinante.
Do gene materno.
Deveria “colar”; ainda mais pra quem era vestido para o colégio dormindo deitado na cama, ia dormindo no carro até o colégio e ainda ficava na porta da biblioteca dormindo no chão até a bibliotecária chegar… O que são 5 minutinhos?
Eu nunca pedi mais cinco minutos. Eu levantava, escovava o dente, trocava de roupa e dormia de novo (na cama, no sofá, no carro, no ônibus, no metrô…). Lá em casa ninguém nunca se atrasou por minha causa.
D. Miriam entregou bonito agora!
Minha vida é um livro aberto. A minha mãe é o marcador que faz você ter acesso mais rápido às partes negras do livro.